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C. Santos vinca a mobilidade e sustentabilidade

A presença da Sociedade Comercial C. Santos no Salão do Automóvel Híbrido e Elétrico do Porto foi mais do que exposição e test-drives. A mais recente edição das SocTalks, conversas da empresa sobre o setor decorreu com vários especialistas e uma conclusão: a mobilidade será tão mais eficiente e sustentável quanto mais complementares forem o transporte individual e público.

carlos.sousa@autolook.pt

Com o tema “Impacto da eletrificação no automóvel e na mobilidade”, esta SocTalks (que pode ser vista na íntegra aqui) contou com a presença de Rodrigo Ferreira da Silva (presidente da ARAN – Associação Nacional do Ramo Automóvel e vice-presidente do CECRA – Conselho Europeu do Comércio e da Reparação Automóvel), de Carlos Ferraz (diretor da mobilidade elétrica da Prio), de João Moreira (gestor de frota da Living Tours) e de Álvaro Costa (especialista em mobilidade da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto).

A conclusão geral é que a eletrificação ainda tem um caminho a fazer e que o carregamento doméstico e rede pública são temas essenciais. A principal conclusão é que a mobilidade será mais eficiente e sustentável se transporte individual e público forem considerados complementares e não antagónicos.

Rodrigo Ferreira da Silva, que representava o setor automóvel na mesa-redonda, salientou essa complementaridade: «Agora, pode ser quanto mais complementar quanto maior for a oferta de qualidade e fiabilidade do transporte público. E todas as estratégias devem procurar essa complementaridade. Com certeza que ao longo dos próximos anos o crescimento das populações urbanas irá levar a que a necessidade de automóvel seja menor», considera o presidente da ARAN e vice-presidente do CECRA.

Para essa complementaridade é importante, também, a existência de estruturas como parques de estacionamento à entrada dos centros das cidades, assim como cuidados relacionados com a urbanização e as frotas de autocarros.

«Com grande parte das pessoas a viverem em apartamentos, a questão do carregamento é essencial. Mas há que esperar, até pelas políticas das cidades em relação à entrada dos automóveis no perímetro urbano. Mas, repito, o transporte individual e o coletivo não têm de ser antagónicos, mas antes complementares, sendo, também, importante, que haja investimento na renovação do parque de pesados de passageiros», afirma Rodrigo Ferreira da Silva.

Álvaro Costa, um dos maiores especialistas portugueses em mobilidade urbana, considera que o divisionismo é, aliás, um obstáculo às soluções: «O problema é um pouco esse: as pessoas ou assentam no transporte individual porque querem usá-lo ou pensam que o transporte público é a solução para todas as necessidades. O transporte público é a solução para espaços de congestionamento, mas em todo o interior é impossível viabilizar a mobilidade das pessoas pelo transporte público», salienta.

O especialista da FEUP é da opinião que no Porto e em Lisboa as pessoas deveriam usar mais o transporte público do que fazem, mas nas outras cidades o cenário é diferente.

«O problema é que em Portugal a mobilidade individual é muito cara, o que faz com que os territórios em que a mobilidade mais racional deveria ser o transporte individual percam competitividade, dado que é muito caro andar de carro para a maior parte das famílias», sublinhou.

A mesma fonte defende que Portugal tem um sistema «desadequado de toda a taxação, o que faz com que as opções de mobilidade também sejam desadequadas e haja desequilíbrios na forma como nós nos movimentamos».

ELETRIFICAÇÃO É DESAFIO À RENTABILIDADE NO SETOR

A eletrificação tem vários impactos na sociedade, a começar pelas empresas ligadas ao setor automóvel: «São grandes, transversais e a diferentes níveis», atira Rodrigo Ferreira da Silva.

«Até ao nível da distribuição, até porque muitas das marcas novas que são full electric escolheram um modelo de negócio de entrada no mercado de vendas diretas, diferente do modelo tradicional da distribuição, com importador e concessionário. Falando também da concorrência chinesa, estamos no início de uma onda de novas marcas a chegar. Algumas procuram grandes grupos, outras procuram um modelo tradicional, até aproveitando algum desinvestimento de redes tradicionais. Por exemplo, o crescimento da MG em França é feito muito à custa da retirada estratégica da Mitsubishi», sustentou Rodrigo Ferreira da Silva.

O presidente da ARAN acrescenta que no após-venda, «ainda é difícil de prever qual será o impacto» da eletrificação no negócio, porque esta alteração tecnológica diminui as intervenções, «mas ainda há um parque de cinco milhões de automóveis a combustão em Portugal». «Esse impacto ainda não está a ser sentido ainda, mas sê-lo-á no futuro».

Rodrigo Ferreira da Silva não tem, de resto, dúvida que se trata de «desafios em termos de rentabilidade para as empresas do setor automóvel».

DISPONIBILIDADE DOS VEÍCULOS É DESAFIO NO TURISMO

O operador turístico Living Tours conta com uma frota de cerca de 50 veículos, entre tuk-tuks, viaturas de passageiros até novel lugares e autocarros de pequena dimensão. Os tutk-tuks já estão eletrificados e alguma da frota de viaturas ligeiras também já é elétrica, mas o processo levanta alguns desafios para uma empresa desta área, que efetua deslocações rápida ida e volta num raio superior a 200 km da cidade do Porto.

«Se nos dissessem que amanhã teríamos automóveis com grande autonomia e postos de carregamento com elevada disponibilidade, trocaríamos já a frota toda. Infelizmente, isso ainda não é possível, mas estamos a dar passos no sentido da eletrificação. Já temos em frota várias unidades elétricas, temos as nossas instalações preparadas com carregadores e estamos a formar os nossos guias/motoristas, dado que a condução também é importante no processo», refere o gestor de frota da empresa.

«Ainda temos de caminhar, dados que vamos a destinos a alguma distância, onde, muitas vezes, não temos tempo nem disponibilidade de carregamento, pois os nossos parceiros no destino ainda não conseguem ter essa infraestrutura disponível para os vários operadores como nós que os visitam diariamente com grupos», salienta João Moreira.

“UNIVERSALIDADE” DO CARREGAMENTO

É PROCESSO EM CURSO

O diretor da mobilidade elétrica da Prio avisa que “estamos a falar de um processo” que ainda vai demorar ano: «São cinco milhões de veículos a combustão a circular em Portugal e se dividirmos esses cinco milhões pelas cerca de 200 mil unidade de automóveis novos que são vendidas todos os anos, temos 25 anos para a renovação – isto partindo do princípio de que seriam todas eletrificadas essas viaturas, o que aumenta a gradualidade».

Carlos Ferraz avisa que «a utilização de um veículo elétrico é muito diferente da de um a combustão». «O veículo elétrico obriga a mudanças na forma de conduzir e de “reabastecer”. O que se deve fazer é aproveitar as situações em que o veículo está parado para recarregar. Isso é uma mudança de mentalidade».

Depois há a questão da disponibilidade de infraestrutura de carregamento, o que «é uma dificuldade», de acordo com Carlos Ferraz: «Portugal é um bom exemplo a nível mundial, dado que independentemente do fornecedor de eletricidade, o cliente tem acesso à rede pública de carregamento, a qual compara bem com a de outros países em termos de disponibilidade, dado que, atualmente, conta com cerca de seis mil pontos».

«No entanto, é insuficiente, dado que o crescimento da rede é inegável, mas não tem acompanhado o crescimento ainda maior da venda de veículos eletrificados», nota o diretor de mobilidade elétrica da Prio, antes de salientar que nos veículos pesados o cenário revela «ainda mais trabalho a fazer». «Temos de ter alguma paciência», avisa.

PORTAGENS E INCENTIVOS

O especialista em mobilidade urbana Álvaro Costa considera que «em Portugal temos um problema de taxação das estradas, que se agrava no Porto e em Lisboa». O docente da FEUP defende que se deveria portajar considera um erro a opção por as «circulares externas serem mais caras do que as internas (aqui no Porto a VCI nem se paga) e as radiais não se pagam. Deveríamos inverter a forma para gerir o congestionamento».

O grande motor do crescimento das vendas elétricos são os incentivos fiscais à compra e utilização. Após o caminho feito pelas empresas e pelos particulares com condições de carregamento, pode haver o risco de um abrandamento do mercado no futuro, devido à falta de forma de carregamento doméstico da parte de alguns particulares, avisa Carlos Ferraz.

O diretor da mobilidade elétrica da Prio avisa que o preço dos veículos ainda é um obstáculo à aquisição pelas famílias e que no que toca ao carregamento em casa os 54% de famílias que têm acesso a garagem (contra 80% na Noruega, por exemplo) é outro desafio, mas não o único.

«A possibilidade de termos nos nossos edifícios um carregador para um carro é perfeitamente possível. Se quisermos colocar lá 10 carros a carregar, na generalidade dos edifícios é impossível. Também aí é preciso avançar. As comunidades de energia, quando pudermos ter produção de energia renovável descentralizada nos edifícios empresariais e habitacionais, serão uma ajuda, assim como os carros, que poderão fazer parte do ecossistema, com reintrodução de energia na rede. Temos de trabalhar todos em conjunto», refere.

SOCIEDADE COMERCIAL C. SANTOS NA VANGUARDA

Fundada em 1946, a Sociedade Comercial C. Santos tem instalações no Porto, Maia (Aeroporto) e Felgueiras. É concessionário e oficina autorizada para comercialização de viaturas, peças e prestação de serviços customer services (após-venda) das marcas Mercedes-Benz, Mercedes-AMG, Mercedes-Maybach, Mercedes-EQ, Mercedes-Benz Vans e Mercedes-Benz Trucks. É ainda agente e oficina autorizada smart.

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