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Raid Figueira da Foz a Lisboa com 43 automóveis

A primeira prova automobilística da Península Ibérica, o Raid Figueira da Foz-Lisboa, esteve na base da fundação do Automóvel Club de Portugal (ACP). Este sábado, 4 de novembro, o ACP, liderado por Carlos Barbosa, reedita o desafio para assinalar os 120 anos do clube.

carlos.sousa@autolook.pt

Primeiro Panhard & Levassor que chegou a Portugal 

O Raid Figueira da Foz a Lisboa volta hoje, sábado, dia 4 de novembro, à estrada para ligar a Praia da Claridade à capital portuguesa. Par este desafio, o ACP reuniu 43 automóveis representativos das várias épocas do século XX. A partida, naturalmente, está marcada este sábado, na Figueira da Foz, quando forem 9h30 na Avenida do Brasil, junto ao Hotel Eurostars Oasis Plaza. É partir deste local que a caravana segue rumo a Lisboa, a fim de se juntar ao Panhard & Levassor nas comemorações no Museu Nacional dos Coches.

Este Raid Figueira da Foz a Lisboa é uma recreação da primeira prova de automóveis organizada na Península Ibérica, em outubro de 1902, e que esteve na base da fundação do Automóvel Club de Portugal. Um total de 43 viaturas vai estar à partida na Avenida do Brasil, em que oito pilotos vão estar ao volante de automóveis produzidos ainda antes das duas grandes Guerras Mundiais.

Refira-se que a primeira corrida de automóveis realizada na Península Ibérica esteve na origem da criação do clube – na altura, Real Automóvel Club de Portugal –, que tinha como presidente honorário o Rei D. Carlos I. Tudo começou quando um grupo de entusiastas, que nos primórdios via o automóvel como um objeto de desporto e lazer, reuniu-se na redação do jornal “A Época”, a 6 de setembro de 1902. O diretor do jornal, Zeferino Cândido, juntou-se a um grupo de pioneiros do automóvel, entre os quais Carlos Callixto, Anselmo de Sousa, Eduardo Noronha ou Henrique Anacoreta, com a intenção «de estudar os meios de desenvolver o automobilismo em Portugal, dada a importância que este género de desporto tem adquirido ultimamente em todas as nações cultas».

Também se associaram diversas personalidades influentes na sociedade portuguesa encabeçadas pelo Infante D. Afonso de Bragança, ele próprio um apaixonado pelo automobilismo. Dessa reunião saiu a vontade de se fundar um clube, mas antes foi decidido fazer uma corrida de automóveis em estrada.

Uma comissão executiva foi então nomeada para realizar uma grande corrida de automóveis no outono de 1902 entre a Figueira da Foz e Lisboa, com chegada ao Campo Grande. A 5 de outubro de 1902 foi publicado o regulamento de uma prova que seria de velocidade e em que ganhava quem chegasse primeiro.

As inscrições encerraram no dia 20 e a primeira corrida de automóveis da Península Ibérica viria a realizar-se a 27 de outubro, com nove automóveis – dois a vapor e sete a gasolina – e mais cinco motociclos.

UM INFANTE COM GOSTO PELA VELOCIDADE

O primeiro vencedor de uma corrida de automóveis na Península Ibérica foi um Fiat do Infante D. Afonso, irmão do Rei D. Carlos I, que foi conduzido pelo motorista italiano Bordino. Em segundo lugar ficou um Darraq, conduzido por Afonso de Barros. A corrida teve um enorme êxito, sendo amplamente divulgada pela comunicação social da época.

O próprio povo aderiu em massa ao percurso da prova para ver os automóveis que já atingiam velocidades nunca vistas e contavam com alguma fiabilidade, pois, até chegarem a Lisboa, percorreram 270 km por estradas poeirentas, de mau piso e não sinalizadas.

O curto espaço de tempo entre a reunião de setembro e a realização do raid, em finais de outubro, não foi problema para aquele grupo de pessoas, focado em atingir o quanto antes o seu grande objetivo: criar um clube automóvel em Portugal.

E assim, a comissão encaminhou-se para a concretização do seu sonho, ao propor, no seu último relatório, «que o remanescente da importância das taxas de inscrição seja aplicado às despesas da fundação do ACP».

A 15 de abril de 1903 era fundado o Real Automóvel Club de Portugal, presidido pelo Rei D. Carlos I e tendo como presidente da mesa da assembleia geral o Infante D. Afonso. Os 35 membros dos corpos sociais fizeram parte das comissões que estiveram na origem da fundação do ACP, que se viria a tornar o maior clube português.

PANHARD JUNTA-SE ÀS

COMEMORAÇÕES DOS 120 ANOS DO ACP

O Automóvel Club de Portugal encerra os festejos este sábado à tarde na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O local escolhido para a cerimónia é o Museu Nacional dos Coches, mais precisamente, a Praça Afonso de Albuquerque, nos Jardins de Belém.

As comemorações têm início às 16h30 e contam com a presença do Chefe de Estado, que será transportado pelo Panhard & Levassor, o primeiro automóvel importado para Portugal em 1895. Chegado ao nosso país há 128 anos pela mão de D. Jorge d’Avillez, o Panhard & Levassor foi o primeiro automóvel a circular em Portugal.

E quando deu entrada na Alfândega, logo surgiram dúvidas sobre a taxa aduaneira a aplicar a tão estranho veículo, que acabou por ser classificado como máquina movida a vapor. Foi também com este automóvel que se deu o primeiro acidente de viação em Portugal, quando atropelou um burro na viagem inaugural entre Lisboa e Santiago do Cacém.

Na década de 50, o Panhard & Levassor foi doado ao ACP pela família Garrido e esteve exposto durante largos anos no Museu dos Transportes e Comunicações, na Alfândega do Porto, que já fechou portas.

Entretanto, passou por um profundo restauro ao nível do motor, que decorreu nas oficinas do Museu dos Coches e agora, no dia 4 de novembro, prepara-se para brilhar na festa do ACP.

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