OPINIÃO

De um “corredor” para o Mundo

Alguém disse uma vez: “nem tudo o que reluz é ouro”. E tinha tanta razão! Toda a gente vê a parte bonita das corridas, sempre em viagem, as fotos, os carros, os prémios e os amigos. Realmente é maravilhoso…

Ivo Miguel Tavares

Muita gente me pergunta porque os entusiastas do automobilismo gastam tanto dinheiro e tempo nas corridas… Eu respondo: “pela mesma razão que outras gastam em viagens e discotecas, porque nos encanta”.

Uma das melhores coisas da vida é entrar num carro, conhecer novos lugares, novos amigos e trazer GRANDES memórias. Alguns de nós descobrimos neles uma série de sentimentos que transbordam sobre si mesmos. Os nervos lutando de mãos dadas com a concentração. A euforia que em segundos dá lugar à tristeza.

Um cansaço que se esfuma em segundos e aparece transformado em energia. Olhares que dizem tudo em completo silêncio. O calor dos adeptos rompendo o frio da manhã. E as esperas, as esperas ansiosas pelo início, algo que ainda hoje é difícil e desejado ao mesmo tempo.

Muitos nos invejam, mesmo sabendo que não somos mais que um rebanho que viaja de um lado para o outro em busca de momentos de felicidade. E porquê? Porque quando apertamos o cinto, apertamos as mãos, desejamos boa sorte e o relógio marca 30, tudo começa a desvanecer. Não há mais nada, a tua mente fica completamente em branco e tu tentas controlar as tuas pulsações mas a tua respiração atropela-as.

Todos sabemos os riscos que corremos mas quando lá entramos e competimos sentimos que tudo correrá bem. A tensão mistura-se com o desejo, envolto em 3 metros cúbicos repleto de rollbars e aparelhos. E de repente 5… 4… 3… 2… 1… É exactamente nessa fracção de tempo que dura pouco menos de um segundo quando tudo começa a fazer sentido num escandaloso esquecimento.

Adoramos os rallys e essa paixão faz-nos correr esses riscos. Dias e dias fora de casa. Centenas de horas dentro de um carro, conhecendo e estudando cada metro de troço. Lugares e lugares dos quais conhecemos mais, os seus traçados que a sua cultura, por causa do pouco tempo livre.

Famílias que nos seguem a partir de casa segundo a segundo o que acontece, e na medida do possível, estão embora não estejam. E uma saudade que te acompanha sempre e às vezes está presente, mas nunca desaparece, ainda que rodeado de um círculo de amigos que com o tempo se converte em família.

Confesso que sou viciado em todas e cada uma dessas sensações que me envolvem em cada prova e ainda que não saiba quanto durará esta aventura, o desejo é que nunca acabe. Sabemos que é perigoso, sabemos o que passamos para chegar onde chegamos mas vamos na mesma porque mais ninguém compreende o nosso sorriso e a nossa felicidade. Obrigado a todos e cada um dos que confiaram em mim porque são os promotores desta parte tão importante da minha vida.

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