O “Dakar” mais duro e longo na Arábia Saudita
Os “magos da areia” estão de regresso ao “Dakar”, na Arábia Saudita, para lutar pelo triunfo na prova da francesa Amaury Sport Organisation (ASO). A Toyota é a “armada” japonesa a bater, numa edição em que a Audi quer mostrar serviço, a BRX mais entrosada nos grãos de areia, com a Mini a apresentar um novo T1+.
CARLOS SOUSA E PEDRO RORIZ (auto.look2010@gmail.com)
Criado, em 1979, por Thierry Sabine, um apaixonado pelo deserto, o “Dakar” depressa entrou no lote das mais importantes provas do desporto motorizado. Depois de, ao longo da sua história, não contar para nenhuma competição FIA, não o impediu de atrair cada vez mais marcas e pilotos, passando a integrar, a partir de 2023, o calendário do Campeonato do Mundo de Rally-Raid, sendo a prova de abertura da competição.
O continente africano foi o seu palco até 2008, ano em que a prova, que partia de Lisboa, foi cancelada, em consequência da morte de turistas na Mauritânia, com a organização a ser obrigada a abortar a largada para não fazer a caravana correr riscos de vida.
Mas a Amaury Sport Organisation (ASO), entidade organizadora da prova, não baixou os braços e rumou ao continente sul-americano, com a Argentina a assumir o papel de principal protagonista e de 2009 a 2019 a prova passou pela Argentina, Peru e Bolivia.
A partir de 2020, o “Dakar” transferiu-se para a Arábia Saudita, que vai, pela quarta vez, ser palco da competição. Desta vez, a prova, a pedido dos pilotos, será mais longa e mais dura, levando a caravana de Jeddah, no Mar Vermelho, a Dammam, no Golfo Pérsico, com um dia de repouso na capital, Riyadh. Ao todo serão 8.594 km de percurso, dos quais 4.706 serão percorridos em Setor Seletivo (SS), com a chegada a ser para muitos uma significativa vitória.
NOVAS REGRAS NAS MOTOS
Consciente que quem parte nas primeiras posições para um SS, por terem sido os mais rápidos no dia anterior, era penalizado em termos de navegação, uma vez que quem os seguia tinha marcas que lhes facilitavam a vida, em termos de navegação, a organização decidiu bonificar os três primeiros ao fim dos primeiros 200 km do SS.
Assim, quem for o primeiro ao fim dos primeiros 200 km do SS recebe 300” (5 minutos) de bónus, se for segundo 200” (3m20s) e se for terceiro 100” (1m40s), com os pilotos a deixarem de ter uma paragem obrigatória de 20 minutos em cada etapa.
Para além disso e como já sucede nos automóveis, os pilotos das motos passam a ter o caderno de itinerários em formato digital, deixando de o receber em papel, o que vai obrigar a redobrados cuidados na marcação dos pontos críticos, que no papel eram marcados com várias cores, para os pilotos saberem antecipadamente o que os esperava.
Na lista de inscritos destaque para a ausência da Yamaha, com GasGas, Hero, Honda e KTM a marcarem presença oficial, com os respectivos pilotos a serem os candidatos à sucessão do inglês Sam Sunderland (GasGas), vencedor da última edição.
Na luta pela vitória estarão, também, o americano Ricky Brabec (Honda), o espanhol Joan Barreda Bort (Honda), o chileno Pablo Quintanilla (Honda) e o australiano Toby Price (KTM), com Sam Sunderland, Rocky Brabec e Toby Price a serem os únicos dos participantes que já tiveram o privilégio de inscrever o nome na lista de vencedores da prova.
Portugal volta a estar representado nas duas rodas, por Sebastian Buhler (Hero), Rui Gonçalves (Sherco), Joaquim Rodrigues (Hero), António Maio (Yamaha) e Mário Patrão (KTM), todos eles com vários “Dakar” nas mãos o que permite pensar que algum pode terminar no “top ten” e mais do que um entre os 20 primeiros.
De assinalar o regresso às pistas de Hélder Rodrigues (CAN-AM Maverick XRS) que, depois de ter competido nas duas rodas, durante 11 anos e de ter comandado a equipa de fábrica da Honda, nas últimas edições, vai alinhar nos SSV tendo a seu lado Gonçalo Reis, com Pedro Bianchi Prata e Fausto Mota a navegarem, na mesma categoria, os brasileiros Bruno Conti (Maverick) e Cristiano Batista (CAN-AM Maverick XRS), respectivamente, que fazem a estreia na competição.
Tal como os brasileiros, o campeão nacional de Todo-o-Terreno, João Ferreira (Yamaha), faz a estreia no “Dakar”, em SSV, acompanhado por Filipe Palmeiro, e pode ser uma das surpresas da prova
NOS AUTOMÓVEIS A LUTA PROMETE
Nos automóveis Toyota, Prodrive, Audi e Mini prometem duelos intensos, com o qatari Nasser Al-Attiyah (Toyota) a querer repetir o triunfo de 2022, depois de já ter ganho em 2011 e 2019.
O saudita Yazzed Al Rahji (Toyota), que “joga” em casa, e o sul-africano Giniel De Villiers (Toyota), vencedor em 2009, são os seus companheiros de equipa, com a marca japonesa a querer alcançar o terceiro triunfo, numa prova onde a vitória escapou por pequenos pormenores.
Os franceses Sébastein Loeb (Prodrive), que continua à procura do primeiro triunfo, e Guerlain Chicherit (Prodrive), o argentino Orlando Terranova (Prodrive) e o lituano Vaidotas Zala (Prodrive), navegado pelo português Paulo Fiuza, completam o lote de pilotos da equipa dirigida por David Richards que continua à procura da primeira vitória.
A Audi, que o ano passado esteve na discussão pela vitória, conta com o francês Stéphane Peterhansel (Audi), o “senhor Dakar”, oito vezes vencedor nos automóveis, a que junta seis vitórias nas duas rodas, o espanhol Carlos Sainz (Audi), que triunfou em 2010 e 2020, e o sueco Mattias Ekstrom (Audi), que terá, à partida, a função de “aguadeiro” dos seus colegas de equipa, para inscrever, pela primeira vez, o seu nome na lista de vencedores.
A Mini, que conta com o polaco Jakub Przygonski (Mini) e o argentino Sebastian Halpern (Mini), parece ser, das quatro, a que tem menos hipóteses de voltar ao lugar mais alto do pódio, depois de o ter ocupado por quatro vezes consecutivas, entre 2011 e 2014, mas poderá vir a beneficiar dos problemas que os seus adversários venham a conhecer e estar no lugar certo para “tirar as castanhas do lume”.
A surpresa poderá vir do francês Mathieu Serradori (Century) que o ano passado surpreendeu tudo e todos e que pode voltar a entrar na discussão das primeiras posições. A presença portuguesa nos automóveis completa-se com José Marques, que vai navegar o lituano Gintas Petrus (Optimus).
O PERCURSO
A prova arranca no derradeiro dia do ano, com uma Prólogo (11 km), que servirá para definir a ordem de partida para o dia seguinte, com os 10 primeiros dos automóveis e os 15 primeiros das motos a puderem escolher a posição de partida.
DIA ETAPA EXTENSÃO SS
31 Sea Camp – Sea Camp 11 km 11 km
1 Sea Camp – Sea Camp 602,56 km 367 km
2 Sea Camp – Alula 589,07 km 430 km
3 Alula – Há’il 669,15 km 447 km
4 Há’il – Há’il 574,01 km 425 km
5 Há’il – Há’il 645,04 km 373 km
6 Ha’il – Al Duwadimi 876,24 km 465 km
7 Al Duwadimi – Al Duwadimi 641,46 km 472 km
8 Al Duwadimi – Riyadh 713,85 km 398 km
9 Descanso em Riyadh
10 Riyadh – Haradh 686 km 358 km
11 Haradh – Shayban 623,94 km 113 km
12 Shayban – Empty Quarter Marathon 428,27 km 275 km
13 Empty Quarter Marathon – Shaybah 374,86 km 183 km
14 Shaybah – Al-Hofuf 675,6 km 154 km
15 Al-Hofuf – Damman 417,3 km 136 km