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Políticos, campeões e outras lendas até Évora

Portugal Lés-a-Lés levou caravana de Portimão até Évora em dia excelente para a prática da modalidade. No percurso entre a cidade algarvia e a do Alentejo, o calor não apertou mas que despoletou o entusiasmo de políticos, campeões das duas rodas e outras lendas que integram a comitiva.

carlos.sousa@autolook.pt

De Portimão a Évora longe do asfalto

É do mais eclético que se possa imaginar a caravana do 26.º Portugal de Lés-a-Lés. Como a de todos os anos, aliás! Entre as muitas e muitas centenas de motociclistas que ligaram Portimão a Évora, num dia bafejado por uma meteorologia excelente para o turismo sobre duas rodas, havia gente de todo o país e com todos os níveis de experiência.

Incluindo muitos estreantes na grande maratona organizada, desde 1999, pela Federação de Motociclismo de Portugal. Mesmo se alguns destes novatos contam com imensa experiência na condução de motos… de corridas.

É o caso de Miguel Praia que, depois de títulos nacionais de velocidade e da presença durante várias épocas no Mundial de Superbikes e Supersport, estreou-se, finalmente, no maior evento mototurístico da Europa.

Travessia por um dos locais encharcados

«Há mais de 20 anos que queria fazer o Lés-a-Lés e, este ano, a sair literalmente da porta de casa, não podia deixar de participar. Finalmente os astros alinharam-se e foi possível marcar presença, aproveitando esta parceira com a Yamaha que cedeu uma Teneré 700. As crianças ficaram com a avó e aproveitamos para uma verdadeira lua-de-mel», contava na chegada a Évora um sorridente Miguel Praia.

A quem bastou o primeiro dia para bater o recorde de distância alguma vez percorrida numa moto de estrada. Num percurso que o algarvio considerou «super divertido até Mértola, com curvas em bom piso, antes de uma parte menos interessante na passagem das longas retas alentejanas».

Atenção redobrada numa das passagens pela Estrada Nacional

Depois de receber todos os participantes no Passeio de Abertura no Autódromo Internacional do Algarve, o ex-piloto de Albufeira equipou-se a rigor e fez-se à estrada. Com o cunhado como companheiro de equipa e as esposas à pendura. Bruno Correia, que é outro nome lusitano em destaque no desporto motorizado mundial, conduzindo o Safety Car do Mundial de Fórmula E e o Medical Car da Fórmula 1.

No Lés-a-Lés viveu uma experiência bem diferente: «Muito divertida e felizmente com uma moto que permitiu fazer os vários caminhos de terra sem dificuldade de maior».

Verdadeiras autoestradas não pavimentadas que, apesar do natural inconveniente de criar algum pó, permitiram aos participantes molhar um bocadinho dos pneus na travessia do quase seco rio Vascão – onde o Moto Clube de Albufeira picava as tarjetas enquanto as já famosas vaquinhas faziam a festa aos que passavam –, mas também nos desvios opcionais ao Pulo do Lobo ou ao Castelo de Noudar.

José Maltez, Pedro Carvalho, Bruno Vieira, Tiago Coelho, Tiago Correia, Nuno Costa e Crispim Tribuna

José Maltez, Pedro Carvalho, Bruno Vieira, Tiago Coelho, Tiago Correia, Nuno Costa e Crispim Tribuna continuam de veto em popa no Portugal de Lés-a-Lés. Deitar cedo e cedo erguer tem sido o lema da equipa da Adamus – o melhor gin português, de Anadia.

A etapa inaugural foi cumprida à risca, misturados entre os restantes participantes, oriundos de diferentes latitudes, maioritariamente do continente Europeu, mas também vindos de outros continentes, propositadamente para esta prova que dá a conhecer Portugal e as suas paisagens por caminhos quase desconhecidos.

Neste passeio aventureiro, organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), as “aventuras e peripécias” foram-se acumulando até à chegada a Évora. Depois de longos quilómetros sozinhos nas estradas secundárias e de terra batida, os destemidos elementos da equipa da Adamus – o melhor gin português, de Anadia, adaptaram-se à “selva urbana” da cidade alentejana, com passagem por Reguengos de Monsaraz.

Descanso dos “guerreiros”

Antes, porém, a grande e heterogénea caravana viveu um momento alto em Mértola, com uma receção em grande festa. Momento mais bucólico no cais do Pomarão, onde o antigo local de embarque do minério oriundo das Minas de São Domingos a caminho das siderurgias serviu de palco a um inédito e surpreendente Oásis. Sítios de peso histórico também nesta edição 2024 do Portugal de Lés-a-Lés foram os regressos ao Pulo do Lobo e a Barrancos.

José Maltez, Pedro Carvalho, Bruno Vieira, Tiago Coelho, Tiago Correia, Nuno Costa e Crispim Tribuna “sobrevieram” às agruras dos quilómetros percorridos nas imensas artérias algarvias e alentejanas, chegando ao coração da cidade reconhecida pela UNESCO como Património Mundial para refrescar, finalmente, as gargantas, com Adamus – o melhor gin português, de Anadia.

Serenidade num dos pontos de paragem da caravana

Seguindo lema o lema “deitar cedo e e cedo erguer”, a equipa Adamus – o melhor gin português, de Anadia, alinhará para a segunda etapa, a menos dura e mais rolante ao longo de 460 quilómetros, através do Alto Alentejo, com passagem pelo Crato até Vila Velha de Rodão, onde o renovado espaço envolvente da Torre do Rei Vamba permitirá desfrutar de espetaculares e ímpares vistas sobre as Portas do Rodão.

Desta escarpa sobranceira ao Tejo e de grande importância estratégica desde o Séc. XII, há que arrepiar caminho até Tinalhas, no concelho de Castelo Branco, onde o Moto Clube local faz questão de dar a conhecer o busto que homenageia o Padre José Fernando. E que estará ao lado de outras peças em pedra, ligadas ao motociclismo, incluindo o Arcanjo São Rafael, protetor e padroeiro de todos os motociclistas, ou a homenagem ao Moto Clube de Faro.

Mototuristas com paragem “forçada” para receber sorrisos de “assaltantes”

Que deverá proteger o colorido pelotão na incursão em terras espanholas através da fronteira de Monfortinho sobre o rio Erges, para nova visita às instalações da Motoval em Valverde del Fresno. Depois de cumprimentar o representante da Dunlop que há vários anos apoia o Lés-a-Lés e onde sempre existe música e porco no espeto, o regresso a Portugal será feito por Penamacor. E com direito a receção no renovado espaço do centro histórico e no castelo.
Paragem para respirar um pouco e ganhar fôlego antes de atacar os últimos quilómetros até à Covilhã, cidade amiga dos motociclistas e que é privilegiada porta de entrada na Serra da Estrela. Na Capital dos Lanifícios, a proposta é de aproveitar o final de tarde e início da noite para apreciar a arte urbana na cidade com mais murais por metro quadrado.

Alex Laranjeira

DAS PISTAS AOS CAMPEONATOS TURÍSTICOS

Dono de longa e profícua carreira no motociclismo desportivo é também Alexandre Laranjeira, uma das figuras incontornáveis no Nacional de Velocidade nos anos de 1980 e 90. No seu palmarés destacam-se dois títulos de Campeão Nacional, em 1988 e 1991, a vitória na classe SBK no GP de Macau e o 4.º lugar nas 24 Horas de Liége, na pista de SPA Francorchamps.

Entre 1991 e 1996 conquistou 35 vitórias em SBK e, em tempo de reforma ativa – ainda faz uma perninha nas pistas portuguesas – não perde uma oportunidade para voltar ao evento que atravessa um país que diz «descobrir a cada viagem».

Reconhece que ficou «completamente viciado no Lés-a-Lés após a primeira experiência e esta já é a quarta» presença. Este ano, com uma Benelli 702 TRK, descobriu mesmo uma terra com o seu nome: a pequena aldeia de Laranjeira, no concelho de Loulé. A primeira de várias árvores de fruto atravessadas ao longos dos 460 quilómetros entre Portimão e Évora, seguindo-se os lugares de Pessegueiro, Pereirão ou Figueira.

Alegria na partida para a etapa inaugural

Curiosamente, este Lés-a-Lés marcou a estreia em solo nacional de um potencial campeão. Ou melhor, de um forte candidato à sucessão do português José Fonseca como vencedor individual do FIM Touring World Challenge. Isto num campeonato onde o Moto Clube do Porto arrisca a conquista do pentacampeonato no capítulo coletivo.

O italiano Moreno Crestale, recém-chegado das provas da Suíça (20.000 Lieux Sur Les Mers) e Lituânia (Bikers Night), onde se cruzou com muitos portugueses, sofreu um pouco nos pisos de terra com a imponente Honda Gold Wing, mas adorou o encontro com a “Bianka das Neves e os 7 morcões mineteiros” no controlo criado pelo MCP na passagem de um túnel junto ao antigo cais do Pomarão.

Onde o moto clube local, Falcões das Muralhas, fez questão de franquear as portas da sua sede para dar a provar doçaria regional e matar a sede num dia que começou fresco mas aqueceu à medida que o trajeto desviava para norte, chegando aos 30 graus na zona da Amareleja. Tempo bem fresco para uma das localidades mais quentes de Portugal e onde o Lés-a-Lés já passou com 47º!

Momento de júbilo no seio da caravana

Presença de moto clubes ao longo do percurso que é verdadeiramente imprescindível, contribuindo com simpatia e boa disposição, além de ajudar a reconfortar os estômagos. Como aconteceu também em Barrancos, onde Os Pata Negra serviram, com a ajuda empenhada da vice-presidente da autarquia local, Cláudia Costa, mais de 1.700 sandes de porco preto assado no espeto. Visita que, durante algum tempo, mais que duplicou o número de almas de um concelho que conta 1.300 habitantes.

O lendário porco preto, a que juntou o não menos lendário presunto transmontano fatiado em Mértola por um animado grupo de barcelenses, devidamente identificados com peluches do tradicional galináceo que dá corpo à famosa lenda do peregrino salvo pelo cacarejar do galo assado.

Surpresas para quem já exerceu o direito de voto

DE OLHOS POSTOS NA ESTRELA E NAS ELEIÇÕES

Assim, passada a grande azáfama do primeiro dia, o Lés-a-Lés fez-se à estrada para cumprir a ligação entre Portimão e Évora, num dia que, felizmente, não cumpriu as previsões de um calor abrasador. E que etapa esta, com 10 horas de condução através cenários de beleza ímpar pela serra algarvia, cruzada de Oeste para Este.

Ainda com Portimão a encher os retrovisores, bastaram pouco mais de uma dezena de quilómetros para começar o festival de curvas através da serra de Monchique. E tão animado ia o pelotão que quase nem reparava no passadiço do Barranco do Demo com a sua espetacular ponte suspensa na ligação entre a aldeia de Alferce e o Castelo, com mais de 50 metros de comprimento e construída a 20 metros do solo.

Retemperar energias é fulcral no Portugal de Lés-Lés

Ficou, a visita, para outra ocasião, quando houver tempo suficiente para levar de vencida os cerca de 7 quilómetros – para cada lado – e os mais de 500 degraus que sobem serra acima e descem cerro abaixo. Era tempo de seguir viagem e aproveitar as muito panorâmicas curvas sobre a Ribeira de Odelouca.

Cujas águas ajudariam, mais à frente, a lavar o pó acumulado nos primeiros 500 metros em terra batida, logo após a passagem em São Marcos da Serra, que muitos conhecem vista de fora, do IC2, nas idas e vindas pela nacional ao Algarve, mas poucos tinham alguma vez visitado.

Como foi o caso dos ex-deputados Rodrigo Ribeiro e Miguel Tiago, presenças assíduas na última década do passeio, divertidos com a condução exigente até Mértola e aproveitando todas as paragens para colocar a conversa em dia.

Manuel Marinheiro

É que, apesar das cores políticas bem diferenciadas, a paixão pelas duas rodas criou laços entre os dois que, “com muita pena de ambos”, vão-se separar a meio da segunda etapa. Isto porque Tiago, do PCP, estará no apoio às mesas de voto do distrito de Setúbal nas eleições para o Parlamento Europeu, tendo que regressar a casa mais cedo.

Ato eleitoral que levou o advogado “laranja” a pedir o voto antecipado «para poder fazer tranquilamente toda a viagem até Penafiel».

E porque os motociclistas são previdentes, nunca deixando para amanhã o que podem fazer hoje, a maioria exerceu já o dever cívico, votando de forma antecipada, como aconteceu com o presidente da Direção da Federação de Motociclismo de Portugal, Manuel Marinheiro.

Que, assim, não gastará o dia em reflexão pré-eleitoral, antes desfrutando do trajeto de 460 quilómetros entre Évora e a Covilhã. Percurso pensado para proporcionar 9 horas e 40 minutos de estradas variadas, bem como inúmeras descobertas de imponência paisagística, histórica e arquitetónica.

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