OPINIÃO

Dakar: liberdade nas dunas sauditas

Carlos Sousa
Carlos Sousa

A quatro dias da grande partida da prova rainha do todo-o-terreno mundial, glória às “raposas” do deserto que querem conquistar as dunas sauditas. A competição organizada pela Amaury Sport Organisation (ASO) tem início a 5 de janeiro, na cidade de Al-Ula, e termina no dia 19, em Yanbu, depois de atravessar muitas dunas e desertos, além do tradicional “Empty Quarter”, onde se disputa a etapa maratona, de 48 horas de duração…

Carlos Sousa (carlos.sousa@autolook.pt)

As aventuras e peripécias na areia e caminhos rochosos na Arábia Saudita estão ao virar da esquina. Já falta muito pouco para a partida da prova rainha de todo-o-terreno, a mais dura de todas que se disputa em todos os continentes mundiais. Com tudo isto, quarenta e cinco anos já se passaram desde a primeira edição.

A partida foi de Paris, capital francesa, e a chegada no Dakar, capital do Senegal. O aroma encantador ainda paira em torno da competição que começava na Europa e só terminava em África. O mítico Paris-Dakar, que há muito tempo não sai de Paris nem chega a Dakar, preencheu todos os requisitos não essenciais para ser banido mas que ainda hoje marca a diferença de todas as outras disputadas nos países sul-americanos e, nos últimos cinco anos, na Arábia Saudita.

Automóveis, motos e camiões eram lançados a toda velocidade nas brilhantes e protegidas paisagens nos países africanos por onde passava a prova. E foram muitos. E, em muitos casos, a polémica apertava o cerco à estrutura organizativa, com consequências para os participantes, muita das vezes encurralados nas “armadilhas” de alguns elementos das comunidades locais.

Apesar de polémico, ninguém queria ficar para trás e, durante anos a fio, a caravana, formada por homens e mulheres, preferiam passar o fim de ano a milhares de quilómetros das suas casas. Enquanto para milhões de pessoas o “réveillon” era “sagrado”, passado no conforto de casa, hotéis ou espaços de convívio entre amigos e amigos dos amigos, muitos pilotos andavam perdidos no deserto à procura de uma estrelinha que os guiasse a encontrar o caminho da glória.

Hoje, não é bem assim, porque o Dakar, versão Arábia Saudita começa apenas no dia 5 de janeiro, permitindo à caravana entrar no ano de 2024 com o champanhe na mão, diante de luz, cor e alegria. Os mais recatados optam por ficar em casa, mas a contemplar um filme nefasto da Netflix.

Naturalmente que o cenário das primeiras provas do Dakar deu azo a organizações ultraprofissionais não muito focadas na ramboia. Pese embora as incalculáveis diferenças existentes entre anos primórdios do Dakar e dos atuais, não se pode dizer que a magia ficou afastada. Esse “condimento” não desapareceu por completo. Na imensidão das paisagens sauditas, como antigamente no meio das dunas existentes na África Ocidental ou nos planaltos sul-americanos, a corrida, inúmeras vezes, assume um aspeto meramente secundário.

Quer se queira, ou não, o Rally Dakar é sempre o Rally Dakar, mesmo desenhado e efetuado longe dos padrões de origem, muito embora a odisseia mecânica seja transformada, a espaços, numa viagem de ensinamentos no meio de uma natureza virgem, brutal, hostil, mas de excecional beleza e pureza.

Por muito que se lhe aponte defeitos e feitios pelo simples facto de despertar emoções em território saudita, o Dakar mantém inalterável o poder de fascínio incomparável. O Dakar, independentemente onde se realize, é sempre um espaço de total liberdade e felicidade.

O encanto do deserto tem esse fascínio. E esse fascínio não é de agora. Esse fascínio nasceu em 1979, aquando da primeira edição do Dakar. O verdadeiro. O que partiu de Paris e chegou ao Dakar. Desde essa altura, há quarenta e cinco anos, que o deserto desperta paixões entre pilotos e amantes do todo-o-terreno.

Participar nesta aventura é um exemplo de superação e uma experiência única e arriscada, mas quem por lá andou jamais renega o Dakar. O fascínio pelo deserto. O desejo ardente de levar ao limite o corpo humano e a máquina. A tudo isto, junta-se as emoções da velocidade e o desafio da navegação, inegociáveis, que fizeram do Dakar uma prova épica.

O Dakar 2024 está prestes e iniciar-se. Será longo, muitíssimo mais duro, com acrescidas dificuldades. É o regresso ao espírito desta grande maratona, em que só entram os aventureiros, puros e duros. De Portugal partem alguns. Poucos mas bons.

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