WRC 2023: O passeio de Rovanperä

Como habitualmente, coube ao Rally de Monte Carlo a honra de dar início à nova época no mundial de ralis. Mesmo sendo uma prova sui-generis, pelas condições particulares em que se realiza, já deu para ter uma ideia do que poderemos esperar do mundial de 2023.

Fazendo jus ao ditado que dita que “em equipa que ganha não se mexe”, a Toyota manteve a sua equipa praticamente inalterada. Ogier foi rei e senhor na prova monegasca. Fazendo-se valor do seu enorme talento e de um conhecimento ímpar do terreno, o pluricampeão liderou a prova de fio a pavio.

É certo que faltou Loeb, mas nas condições em que a prova se realizou, com piso praticamente seco, não seria fácil ao alsaciano fazer frente ao mais novo dos Sebastien. E esse papel coube a dois dos seus companheiros de equipa. Primeiro Evans, que parece ter recuperado a confiança e o ritmo que se lhe viu em 2020 e 2021.

Depois Rovanperä, que tal como em 2022, teve um início de prova difícil, mas quando atinou revelou-se rapidíssimo! Não fora o tempo perdido na primeira secção da etapa de 6ªfeira e seria interessante ver até onde poderia ir o jovem campeão. Será para 2024 a primeira vitória do finlandês no principado?

Recuperou muito tempo na segunda etapa e obrigou Ogier a aplicar-se no domingo. Venceu a PowerStage (o que começa a tornar-se um hábito) e leva quase tantos pontos como o francês, que não fará todo o campeonato. Katsuta mostrou-se muito rápido, num rali muito específico.

No entanto, alguns pequenos erros e um problema no final, impediram-no de ir mais além. Não será um candidato ao título, mas deverá ser um piloto regular no top-5 e capaz de conquistar alguns pódios. Para quando a primeira vitória do japonês?

Neuville mostrou-se no seu ritmo habitual. Rapidíssimo mas também propenso a erros, como mostra a saída de estrada na segunda especial. O belga parece ser o único na Hyundai a conseguir acompanhar a concorrência.

O i20 não deve ser um carro fácil de guiar no limite e nem Sordo (outrora um especialista em asfalto mas que nos últimos anos tem revelado melhores prestações nos ralis de terra) conseguiu fazer valer o seu talento e a sua experiência. Lappi deve estar a pensar na escolha que fez, mas a verdade é que, aparentemente, não tinha grandes alternativas. Esperemos que este não seja outro annus horribilis do finlandês, como em 2019, porque é um excelente piloto e merece ser capaz de o mostrar.

A M-Sport (enquanto a Ford não der o apoio devido, há que dar mérito a quem o tem!) conseguiu, ao contrário do que é habitual, um piloto de primeira linha para este ano. Para quem habitualmente se socorre de jovens talentos e alguns pilotos pagantes, é bom de ver que sir Malcom Wilson conseguiu novamente tirar um coelho da cartola, pelo que este ano a equipa inglesa pode sonhar com outros voos.

Tanak tem talento de sobra e conhece os cantos à casa. Se conseguir adaptar-se rapidamente ao Puma e não cometer grandes erros, poderá ser um dos pontos a ombrear com Rovanperä. Quanto a Loubet, há que lhe dar tempo. Teria sido mais fácil para o francês fazer mais uma época como terceiro piloto mas, numa altura em que as oportunidades não abundam, percebe-se que tenha aceitado o desafio de secundar Tanak. Não se deve exigir demasiado ao jovem piloto, mas também não será de estranhar se terminar algumas provas no top-5 e conseguir estrear-se nos pódios.

Dependendo da prestação dos adversários, o campeonato poderá ser um passeio de Rovanperä. A única forma de isso não acontecer é Tanak, Evans e Neuville serem capazes de andar a 110% sem cometer erros…

João Ricardo Branco

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One thought on “WRC 2023: O passeio de Rovanperä

  • 24 Janeiro, 2023 em 23:44
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    Como nos tem habituado o Ricardo apresenta um excelente resumo e perspectivas para o campeonato. Obrigado por estas iniciativas e partilhas do saber.

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