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Piloto sem braços e pernas no Sertões BRB

Com um carro adaptado, Marcos Rossi participou no Prólogo e do Super Prime e vai percorrer mais alguns percursos ao longo das oito etapas da competição.

carlos.sousa@autolook.pt

Piloto fala da sua experiência aos estudantes do Concurso de Artes Sertões BRB (Gabriel Heusi/Sertões)

O maior rally das Américas é desafiador por natureza, mas em 2024 também foi desafiado. O escritor e palestrante Marcos Rossi nasceu com a Síndrome de Hanhart, que impede o desenvolvimento dos braços e das pernas e afeta uma a cada 500 mil pessoas no mundo. Mas isso nunca o impediu de realizar seus sonhos.

Marcos Rossi, que já é skatista, surfista e mergulhador, aprendeu a conduzir, tirou a carta de condutor e escolheu enfrentar o Sertões BRB como piloto de rally. Com um carro especialmente adaptado, participou no Prólogo e do Super Prime esta sexta-feira, em Brasília, e vai percorrer mais algumas provas especiais ao longo das oito etapas da competição.

Foram nas areias de Natal, cidade onde mora, que conheceu o UTV e se apaixonou. Assim como fez com o carro para aprender a conduzir, Marcos Rossi foi atrás de uma forma de adaptar o UTV para realizar mais um sonho.

Marcos Rossi encontrou Fernando Fernandes, outro exemplo de superação (Gabriel Heusi/Sertões)

Também de Natal, Aderson Luiz de Araujo, conhecido como Amarelinho, topou o desafio. A sua empresa já trabalhava a preparar o UTV para competição, mas nunca tinha adaptado um veículo para um piloto com necessidades tão específicas quanto as de Marcos Rossi.

Depois de estudos e testes, a Amarelinho Preparações conseguiu criar um modelo de UTV adaptado que permite que pessoas com necessidades especiais possam pilotar. Segundo Amarelinho e sua esposa, parceira no projeto, Sayonara Cavalcanti, o modelo criado tem capacidade de adaptação para outras pessoas e suas necessidades específicas, talvez até para possibilitar no futuro a criação de uma categoria especial destinada a esses competidores naturalmente desafiadores.

No UTV de Marcos Rossi, freio e acelerador são acionados através de uma alavanca que se move para a direita e a esquerda. O volante foi adaptado com uma peça extra com espaços para conseguia girar o UTV na direção desejada. A dupla de competição foi formada com Amarelinho na navegação e os dois já participaram do Rally RN em 2024 como uma preparação para o Sertões BRB.

«Eu já nasci a precisar de me superar. A minha vida sempre foi sobre adaptação. As pessoas têm o costume de olhar para o que falta e esquecem de olhar para o que já tem. Quando você aprende a virar essa chave é uma transformação de vida. Você começa a pensar em tudo que pode fazer com o que tem hoje. Eu faço tudo e não tenho nada. E tem gente que tem tudo e decide não fazer nada», sublinhou Marcos Rossi.

«Decidi que ia ser piloto de rally e correr o maior de todas as Américas, que é o Sertões. Acredito que se você consegue passar por um Sertões, você consegue passar por qualquer coisa. Quando você coloca a intenção as coisas vão se conectando, até porque a minha vida inteira foi assim. Sempre há o próximo passo. Primeiro adaptei um carro para aprender a conduzir, depois um UTV para acelerar em provas de rally e agora estou aperfeiçoando minha técnica de pilotagem. Isso é ter uma vida feliz, acrescentou o palestrante, escritor e, agora, piloto de rally.

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